ADIVINHAÇÃO É PECADO?

16/08/2022 0 Por Marta Villela

Horóscopo, Tarô, Cartas

Por que a adivinhação é pecado?

Há inúmeras modalidades de adivinhação, mas todas elas têm algo em comum: o contato com poderes desconhecidos e ocultos. E é por isso que o Catecismo condena todos os tipos de adivinhação.

O primeiro mandamento do Decálogo e a virtude da religião

A razão humana, quando reflete sobre a criação, percebe que é necessário admitir a existência de Deus, um Deus único, princípio e fim de todas as coisas. Porém, na busca pela existência de Deus, há mistura de um e outro erro. Por isso, Deus mesmo se revelou ao homem: “Eu sou aquele que é” (Ex 3, 14).

O primeiro dos Dez Mandamentos preceitua: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, dessa casa da escravidão. Não terás outros deuses perante mim” (Ex 20, 2). É o Deus único e verdadeiro que se revela como nosso Criador e Senhor supremo.

De acordo com este Mandamento, devemos prestar culto a Deus. O ato interno é a submissão da alma, pela qual veneramos a Deus. O ato externo é o meio: a oração, a Missa etc. Do ponto de vista negativo, este preceito proíbe os vícios opostos à [virtude] da religião: e como estes vícios se opõem à principal virtude moral, são os mais graves pecados depois dos pecados contra as virtudes teologais, e são por natureza pecados mortais .

“A Santíssima Trindade”, por José de Ribera.

Ora, se a razão humana, apoiada na Revelação divina, reconhece a existência de um único Deus verdadeiro, Ele é digno de toda a submissão e adoração das criaturas. Ele as criou gratuitamente, para que elas participassem de sua bondade em níveis variados. Portanto, decorre da lei natural o dever de cultuar o único Deus verdadeiro e ser submisso a Ele: “Não há outro Deus além de mim. Deus justo e salvador, não o há fora de mim. Convertei-vos a mim e sereis salvos, vós todos os povos da terra, porque eu sou Deus e não há outro” (Is 45, 21-22).

A virtude da religião preceitua atos internos, pelos quais reconhecemos interiormente nossa total dependência de Deus e adoramos sua majestade suprema;  pelos atos externos, manifestamos nossos sentimentos internos de submissão e adoração. E tudo isso é coerente com a nossa natureza: somos criaturas e Deus é criador; somos finitos e Deus é infinito; vivemos no tempo, mas Deus é eterno — por isto nos prostrarmos e adorarmos a majestade divina.

A razão reconhece a existência de um único Deus verdadeiro e a Revelação nos atesta a existência deste único Deus verdadeiro. E pela fé apostólica sabemos que o único Deus verdadeiro é na verdade uma Trindade, três Pessoas eternas, da qual uma se fez verdadeiro homem, morreu por nós e ressuscitou dos mortos. Portanto, ao reconhecer a veracidade da Revelação cristã, é razoável, é coerente, é natural admitir a necessidade da adoração e submissão ao Filho eterno de Deus, que é um só e único Deus com seu Pai eterno e com o Espírito Santo que procede de ambos.

O pecado de adivinhação segundo a moral católica

Em sentido próprio, a adivinhação é a predição de coisas futuras através de meios não instituídos por Deus. A adivinhação é frequentemente considerada como: o conhecimento ou a afirmação de qualquer coisa que não pode ser conhecida de modo natural nem foi revelada por Deus, e não somente coisas futuras mas também coisas ocultas. Como o conhecimento destas coisas não é alcançado através das potências naturais do homem, nem com auxílio de Deus, dos anjos bons ou dos santos (porque Deus não permite que os anjos e os santos manifestem coisas ocultas de modo indevido), conclui-se que toda adivinhação acontece, direta ou indiretamente, por obra dos demônios.

Por essa razão, a adivinhação pode ser definida como: uma superstição em que se invoca explícita ou ao menos implicitamente o demônio para, com sua ajuda, conhecer coisas ocultas.

Quem tenta prever o futuro (sem que Deus o tenha revelado), comete adivinhação porque age de modo indevido, usando de algo que pertence somente a Deus.

Os demônios não são capazes de conhecer os futuros contingentes, nem as coisas realmente ocultas, muito menos os segredos dos corações. Porém, eles superam em muito a capacidade humana de conhecer outro tipo de coisas futuras e ocultas, e isto por várias razões:

A potência intelectiva natural dos anjos é muito mais perfeita que o intelecto do homem, e essa virtude intelectiva natural não diminuiu nos demônios por causa do pecado;

porque, com a experiência de tantos séculos, eles sabem o que costuma acontecer em certas circunstâncias, mesmo tratando-se de causas contingentes;

porque como são espíritos fortíssimos e astutos, podem, por permissão divina, influenciar causas livres a produzir certos efeitos (contudo, não com certeza absoluta).

Toda verdadeira adivinhação é feita por obra do demônio:

a) Pela expressa invocação dele, ou, como se diz, com pacto explícito com o demônio, a saber, quando o demônio é invocado com certas palavras para que então queira comunicar alguma informação, por exemplo: qual sorteio na loteria dará o prêmio máximo;

b) pela invocação implícita, quando, para obter algum conhecimento, uma pessoa utiliza meios ineptos sabendo que eles não podem produzir o efeito pretendido, nem por sua capacidade natural, nem pela vontade de Deus ou da Igreja. O demônio se mete com prazer nestes meios ineptos, porque então o homem, tendo abandonado o culto de Deus, pouco a pouco cai em perniciosos erros.

De tudo isto, vemos que é inútil ao homem buscar conhecer o seu futuro. Devemos, antes, confiar em Deus e tudo entregar em suas mãos, pois Deus é um Pai amoroso, que deseja o nosso bem.