FORA DA IGREJA EXISTE SALVAÇÃO?

13/03/2024 0 Por Marta Villela

No mundo de hoje, dominado pelo indiferentismo religioso,  pode não ser coisa fácil, mas, como ensina o Papa Paulo VI, “não minimizar em nada a doutrina salutar de Cristo é forma de caridade eminente para com as almas” . Não se pode abdicar o anúncio da verdade. Sem esta, de fato, não pode sequer haver autêntico amor, como preleciona Bento XVI: “Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida” .

Para salvar suas vidas, muitos homens poderiam ter jogado um pouco de incenso sobre a imagem do Imperador. Mas renunciaram à própria vida , foram degolados, martirizados,  crucificados.  Os primeiros mártires da Igreja ofereceram o seu testemunho de sangue. Eles  disseram não à idolatria. Renunciaram, então, a outras religiões; demonstraram, com a sua vida, que uma só é a religião verdadeira.

Do mesmo modo, não é possível conciliar o indiferentismo com a fé dos apóstolos, que atravessaram continentes e oceanos para anunciar o Evangelho aos pagãos; ou com a fé de São Francisco Xavier, que viajou ao Oriente para converter os povos que não conheciam a Cristo; ou com a fé dos missionários jesuítas, que evangelizaram o Novo Mundo a um alto custo, enfrentando desafios tremendos para trazer os povos indígenas à fé cristã. Todo o sacrifício dos missionários cristãos para evangelizar outros povos está fundado na convicção da necessidade da Igreja para a salvação dos homens.

Sugerir que a salvação pode ser empreendida simplesmente por esforços humanos significa,  não só caminhar na contramão dos santos, mas faltar à caridade com que Cristo amou a Sua Igreja e Se entregou por ela (cf. Ef 5, 25).

Vamos definir o que é Igreja. Trata-se da continuação do mistério da encarnação de Cristo na história. De fato, as graças que Jesus conquistou para os homens na cruz podiam ser distribuídas:

“Diretamente por si mesmo a todo o gênero humano. [Ele] quis, porém, comunicá-las por meio da Igreja visível, formada por homens, a fim de que por meio dela todos fossem, em certo modo, seus colaboradores na distribuição dos divinos frutos da Redenção. E assim como o Verbo de Deus, para remir os homens com suas dores e tormentos, quis servir-se da nossa natureza, assim, de modo semelhante, no decurso dos séculos se serve da Igreja para continuar perenemente a obra começada”

“O eterno pastor e guardião das nossas almas (cf. 1 Pd 2, 25), querendo perpetuar a salutar obra da redenção, resolveu fundar a santa Igreja, na qual, como na casa do Deus vivo, todos os fiéis se conservassem unidos, pelo vínculo de uma só fé e amor.”

Quando Deus nos veio salvar em Jesus, havia um abismo entre Deus e o homem. Pois Deus é Deus, e as criaturas são apenas criaturas, marcadas pelo pecado original.

Sendo impossível que o homem superasse esse abismo, Deus fez-Se homem. Construiu, assim, o caminho inverso do da Torre de Babel. Enquanto neste, os homens tentavam edificar uma torre que atingisse os céus, naquele, foi o próprio Deus quem veio em socorro da fraqueza humana.

Em Cristo estão unidas as duas naturezas: a divina e a humana,  e é justamente por ser homem e Deus que só Ele pôde e pode redimir o homem e levá-lo a Deus.

Para que o homem se salve, então, ele deve incorporar-se a Cristo, precisa entrar em seu Corpo, que é a Igreja.

A palavra definitiva da Igreja sobre esse assunto foi dada em 2000, na declaração Dominus Iesus, da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé:

“Antes de mais, deve crer-se firmemente que a ‘Igreja, peregrina na terra, é necessária para a salvação. Só Cristo é mediador e caminho de salvação; ora, Ele torna-se-nos presente no seu Corpo que é a Igreja.

A fé e o Batismo nos são necessários, assim como é necessária a Igreja, na qual os homens entram pelo Batismo tal como por uma porta’ .

Tenhamos em mente estas duas verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a necessidade da Igreja para essa salvação.

“… Entre as coisas que a Igreja sempre pregou e nunca deixará de pregar está também a afirmação infalível que nos ensina que ‘fora da Igreja não há salvação’.”

Trata-se de um ensinamento constante do Magistério, retirado da Tradição – encontra-se em escritores como Inácio de Antioquia, Irineu de Lyon, Orígenes e Cipriano de Cartago –, afirmado pelo IV Concílio Lateranense [12] e reafirmado pelo Concílio de Florença [13], ensinamento “que a Igreja sempre pregou e nunca deixará de pregar”.

“Por isso, ninguém será salvo se, sabendo que a Igreja foi divinamente instituída por Cristo, todavia não aceita submeter-se à Igreja ou recusa obediência ao Romano Pontífice, vigário de Cristo na terra.”

“Ora, o Salvador não apenas ordenou que todas as nações entrassem na Igreja, mas ainda decidiu que a Igreja seria o meio de salvação sem o qual ninguém pode entrar no reino celeste.”

(…)

“Para que alguém obtenha a salvação eterna não é sempre necessário que seja efetivamente incorporado à Igreja como membro, mas requerido é que lhe esteja unido por voto e desejo.”

“Todavia, não é sempre necessário que este voto seja explícito como o é aquele dos catecúmenos, mas, quando o homem é vítima de ignorância invencível, Deus aceita também o voto implícito, chamado assim porque incluído na boa disposição de alma pela qual essa pessoa quer conformar sua vontade à vontade de Deus.” [14]

As pessoas que forem salvas, serão salvas através da Igreja Católica. De que modo? Ou através da explícita e clara incorporação através do batismo, da profissão de fé e da submissão ao Romano Pontífice ou por outros meios que só Deus conhece. O que é claro é que a Igreja Católica será sempre o meio de salvação do homem

Suponha-se que um pagão, como Mahatma Gandhi, se tenha salvado. Como homem de boa vontade, ele salvou-se unido de alguma forma ao mistério da Igreja Católica. Isso é muito diferente de relativizar as coisas, como dizer que “qualquer religião salva” ou que “é importante é respeitar todas as religiões”.

Essa fórmula vale para os seres humanos, mas não para tudo aquilo que eles fazem ou inventam. Não se pode, por exemplo, aprovar e respeitar: a religião asteca, que matava milhares de pessoas em sacrifício ao deus sol; ou a religião de Moloch, que sacrificava crianças; ou o satanismo, que diviniza a maldade. As outras religiões podem possuir aspectos positivos, mas eles se devem à Igreja: tudo aquilo que é bom desejo humano, que é aspiração digna de respeito dirige-se à Igreja e dirige as pessoas ao redil de Pedro.

Essa doutrina está presente em muitos documentos da Igreja, mas pode ser resumida em um parágrafo, contido no Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 171:

‘Fora da Igreja não há salvação’

Isto significa que toda a salvação vem de Cristo-Cabeça por meio da Igreja, que é o seu corpo. Portanto não poderiam ser salvos os que, conhecendo a Igreja como fundada por Cristo e necessária à salvação, nela não entrassem e nela não perseverassem. Ao mesmo tempo, graças a Cristo e à sua Igreja, podem conseguir a salvação eterna todos os que, sem culpa própria, ignoram o Evangelho de Cristo e a sua Igreja mas procuram sinceramente Deus e, sob o influxo da graça, se esforçam por cumprir a sua vontade, conhecida através do que a consciência lhes dita.”